domingo, 17 de abril de 2011

"Eu preciso muito muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor. Tenho sentido necessidades do novo, não importa o quê, mais que seja novo, nem que sejam os problemas. Preciso deixar a casa vazia para receber a nova mobília ! Fazer a faxina da mente, da alma, do corpo e do coração! Demolir as ruínas e construir qualquer coisa nova, quem sabe um castelo."


"Que bom que sou capaz, que bom que sou forte, que bom que suporto. Colei aquele "Eu Amo Você" no espelho. É pra mim mesmo."


"Alguma coisa aconteceu comigo. Alguma coisa tão estranha que ainda não aprendi o jeito de falar claramente sobre ela."


"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."


""Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar."


"Eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro.Mas eu preciso muito muito de você."

Todos de Caio Fernando Abreu







Olha, eu ainda tenho um blog..

Acabei não postando mais nada.. tenho lido pouco, mas vou retomar os velhos hábitos..

E que tal continuar conhecendo mais dos textos de Caio Fernando Abreu:?!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Para uma avenca partindo  


Caio Fernando Abreu


Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viveras superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualqueratraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um diadestes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.
Mais carteiras!

Essa carteira é de origami!
Isso mesmo! São só dobraduras, nada de linha, agulha, costura, ...

Essa foi a primeira, não ficou tão perfeita, mas chegou bem perto!
As marcações e dobras precisam ser bem exatas, nada de acochambrar..



Um pouquinho de artesanato..

Sempre que tenho um tempo sobrando gosto de ir atrás de coisas artesanais para fazer..
Já fiz arte francesa, cadernos, garrafas cheias de estrelinhas de papel, um pouco de vagonite quando era pequenina, e agora carteiras!





Quer comprar??
Envie um email!

dri.dm.if@gmail.com

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Hoje eu fui dormir com dor da Humanidade..


Cansada, cansada de tudo, ou melhor quase tudo.
Sabe, são cobranças, pressões, problemas, hipocrisias, egoísmo, arrogância, mais egoísmo, falta de humildade, de compaixão, de sentimentos!
O egoísmo predomina. As pessoas vivem em suas mini-bolhas (cada vez mais mini's), seus clãs hipócrita-sociais, vivem em mintiras, se julgam pelos seus diplomas, suas notas, seu certificados...
As pessoas se transformam cada vez mais em papéis, papéis que são analisados por outros papéis, que por serem "maiores" se julgam superiores. O humano por trás daquele papel de nada importa, ele se torenou uma máquina, uma marionete (às vezes até de si mesmo), já não sente vontade, não possui desejo, tem apenas uma obrigação a cumprir, e sabe para que?? Para conseguir mais um papel! 
E quanto mais foco nessa obrigação menor a sua bolha fica, o mundo começa a se tornar desinteressante, passeios, coisas pequenas e simples, coisas que "dão trabalho" são desnecessárias, são cansativas, são longe, é tempo perdido..
E assim toda a sua juventude, seu prazer em viver, vão ficando para trás e sabe? A vida vai ficando menos vivida.
Mas enfim! Você consegue um excelente trabalho! Oras, era o que queria! E quando se ve com 35 anos percebe que não viveu seus últimos 15 anos, mais aí já se sente velho, envergonhado de fazer as coisas que não fez, deprimido e resolve por continuar seu tão desejado sonho, casado, com filhos, mas sozinho por dentro. Não se tornou ninguém além de mais um número, mais uma certidão de nascimento, um cpf, um imposto de renda. 
Não tem história, não tem lembranças, vive de falsas alegrias, falsos prazeres, de confraternizações que não suporta, vive o mundo que sempre sonhou, da pior forma possível porque se preocupou apenas em alcançar o seu sonho e não aproveitou o mundo que passava gritando ao seu redor.
E aí, que decisão você já tomou? O que você pretende fazer? Sorriu nessas últimas horas? Fez algo novo para você ultimamente? Está vivendo? Ou está morrendo um pouco a cada dia?
A decisão é sua, você quem faz suas escolhas.




Escrito em 07/12




quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Em cartaz!

Faço GTP, Grupo de Teatro da Poli, são 4 núcleos amadores, Amarelo, Vermelho, Azul, Laranja e um profissional Verde. 
Na próximo semana haverá peças todos os dias às 20h30 na sala do GTP na Poli.

A imagem abaixo é do núcleo que eu participo!

 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010


"Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera"
Secos e Molhados

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

   Uma música retirada do filme "O Sentido da Vida" do Monty Python, filme esse que recomendo a todos! Assim como "O Cálice Sagrado",  "A Vida de Brian" e a série "Flying Circus". O humor desses britânico é genial!
   Logo abaixo da letra há o link com o vídeo (trecho do filme) excelente!




"Why are we here? What's life all about?
Is God really real, or is there some doubt?
Well, tonight, we're going to sort it all out,
For, tonight, it's 'The Meaning of Life'.

What's the point of all this hoax?
Is it the chicken and the egg time? Are we just yolks?
Or, perhaps, we're just one of God's little jokes.
Well, ça c'est 'The Meaning of Life'.

Is life just a game where we make up the rules
While we're searching for something to say,
Or are we just simply spiralling coils
Of self-replicating DN-- nay, nay, nay, nay, nay, nay, nay.

What is life? What is our fate?
Is there a Heaven and Hell? Do we reincarnate?
Is mankind evolving, or is it too late?
Well, tonight, here's 'The Meaning of Life'.

For millions, this 'life' is a sad vale of tears,
Sitting 'round with really nothing to say
While the scientists say we're just simply spiralling coils
Of self-replicating DN-- nay, nay, nay, nay, nay, nay, nay.

So, just why-- why are we here,
And just what-- what-- what-- what do we fear?
Well, ce soir, for a change, it will all be made clear,
For this is 'The Meaning of Life'. C'est le sens de la vie.
This is 'The Meaning of Life'. "






terça-feira, 21 de setembro de 2010

PARA VIVER UM GRANDE AMOR

"Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva obscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor."

Vinícius de Moraes